Abordagens Inovadoras no Tratamento da Insuficiência Cardíaca: Avanços e Desafios
Silva, Lucas E. A. et. al.
Abordagens Inovadoras no Tratamento da Insuficiência Cardíaca:
Avanços e Desafios
Lucas Eduardo Almeida Silva¹, Maria Clara Gomes Rodrigues¹, Renato Fernando Costa
Lima¹, Tatiane Ramos Oliveira¹
REVISÃO DE LITERATURA
RESUMO
A insuficiência cardíaca é uma síndrome de alta prevalência e mortalidade. Este artigo revisa
abordagens inovadoras no tratamento da IC, incluindo inibidores do receptor de angiotensina e
neprilisina (ARNI), inibidores do cotransportador de sódio e glicose tipo 2 (iSGLT2), terapias
celulares e dispositivos implantáveis avançados. A revisão baseou-se em estudos publicados
entre 2010 e 2023. Os resultados indicam que essas terapias proporcionam benefícios adicionais
aos tratamentos convencionais, melhorando a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes. No
entanto, desafios na implementação, como custos e acesso, permanecem. Conclui-se que
esforços contínuos são necessários para integrar essas abordagens inovadoras na prática clínica.
Palavras-chave: Insuficiência cardíaca; Terapias inovadoras; ARNI; iSGLT2; Terapia celular.
Abordagens Inovadoras no Tratamento da Insuficiência Cardíaca: Avanços e Desafios
Silva, Lucas E. A. et. al.
Innovative Approaches in Heart Failure Treatment:
Advances and Challenges
ABSTRACT
Heart failure is a syndrome with high prevalence and mortality. This article reviews innovative
approaches in heart failure treatment, including angiotensin receptor-neprilysin inhibitors
(ARNI), sodium-glucose co-transporter 2 inhibitors (SGLT2i), cellular therapies, and advanced
implantable devices. The review was based on studies published between 2010 and 2023. The
results indicate that these therapies provide additional benefits to conventional treatments,
improving patient survival and quality of life. However, challenges in implementation, such as
costs and access, remain. It is concluded that continuous efforts are necessary to integrate
these innovative approaches into clinical practice.
Keywords: Heart failure; Innovative therapies; ARNI; SGLT2 inhibitors; Cellular therapy.
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0
International License.
Instituição afiliada UNIMAR
Autor correspondente: Lucas Eduardo Almeida Silva lucaseduardomedunimar@gmail.com
Abordagens Inovadoras no Tratamento da Insuficiência Cardíaca: Avanços e Desafios
Silva, Lucas E. A. et. al.
INTRODUÇÃO
A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa caracterizada pela
incapacidade do coração em bombear sangue adequadamente para suprir as
necessidades metabólicas do organismo (BRAUNWALD, 2015). Representa uma das
principais causas de morbimortalidade global, afetando milhões de pessoas e impondo
um significativo ônus econômico aos sistemas de saúde (PONIKOWSKI et al., 2016).
Apesar dos avanços terapêuticos nas últimas décadas, a IC continua sendo um desafio
clínico, especialmente devido ao seu curso progressivo e às limitações das terapias
convencionais (YANCY et al., 2017).
Os tratamentos tradicionais, baseados em inibidores da enzima conversora de
angiotensina (IECA), betabloqueadores e antagonistas dos receptores de
mineralocorticoides, têm melhorado a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes
(McMURRAY et al., 2012). No entanto, a necessidade de abordagens inovadoras que
possam atuar em diferentes mecanismos fisiopatológicos motivou o desenvolvimento
de novas terapias, incluindo medicamentos como os inibidores do receptor de
angiotensina e neprilisina (ARNI), inibidores do cotransportador de sódio e glicose tipo
2 (iSGLT2), dispositivos implantáveis avançados e terapias celulares (PFEFFER et al.,
2019).
Este artigo tem como objetivo revisar as abordagens inovadoras no tratamento
da insuficiência cardíaca, destacando os avanços recentes e os desafios na sua
implementação clínica. Serão explorados os principais estudos que sustentam essas
novas estratégias terapêuticas, bem como suas implicações para o manejo da IC na
prática atual (BUTLER et al., 2020).
METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão sistemática da literatura nas bases de dados PubMed,
SciELO e Embase, abrangendo o período de 2010 até outubro de 2023. Utilizaram-se os
Abordagens Inovadoras no Tratamento da Insuficiência Cardíaca: Avanços e Desafios
Silva, Lucas E. A. et. al.
seguintes termos de busca em português e inglês: "insuficiência cardíaca", "tratamento
inovador", "novas terapias", "ARNI", "iSGLT2", "terapia celular", "dispositivos
implantáveis", combinados com os operadores booleanos AND e OR.
Critérios de inclusão:
Artigos originais, revisões sistemáticas e meta-análises que abordassem
abordagens inovadoras no tratamento da IC.
Estudos publicados em português ou inglês.
Publicações disponíveis na íntegra.
Critérios de exclusão:
Estudos que não focassem diretamente em terapias inovadoras para IC.
Artigos duplicados ou não disponíveis na íntegra.
Estudos com data anterior a 2010.
RESULTADOS
1. Inibidores do Receptor de Angiotensina e Neprilisina (ARNI)
A introdução dos ARNI, como o sacubitril/valsartana, representou um avanço
significativo no tratamento da IC com fração de ejeção reduzida (ICFER). O estudo
PARADIGM-HF demonstrou que o sacubitril/valsartana reduziu em 20% o risco
combinado de mortalidade cardiovascular ou hospitalização por IC em comparação com
o enalapril (McMURRAY et al., 2014). Esse fármaco combina a inibição do sistema
renina-angiotensina com o aumento dos peptídeos natriuréticos, resultando em efeitos
vasodilatadores, natriuréticos e antifibróticos (VOORS et al., 2015).
2. Inibidores do Cotransportador de Sódio e Glicose Tipo 2 (iSGLT2)
Abordagens Inovadoras no Tratamento da Insuficiência Cardíaca: Avanços e Desafios
Silva, Lucas E. A. et. al.
Originalmente utilizados no tratamento do diabetes mellitus tipo 2, os iSGLT2,
como empagliflozina e dapagliflozina, mostraram benefícios cardiovasculares
significativos em pacientes com IC, independentemente da presença de diabetes
(ZANNAD et al., 2020). Estudos como o DAPA-HF e o EMPEROR-Reduced evidenciaram
reduções significativas na mortalidade cardiovascular e nas hospitalizações por IC com
o uso desses agentes (McMURRAY et al., 2019; PACKER et al., 2020). Os mecanismos
propostos incluem efeitos diuréticos, melhora da função miocárdica e redução da
inflamação (VERMA; McMURRAY, 2018).
3. Terapias Celulares e Medicina Regenerativa
A terapia celular emerge como uma abordagem promissora para a regeneração
miocárdica. Ensaios clínicos com células-tronco mesenquimais e células progenitoras
cardíacas mostraram melhora na função ventricular esquerda e redução de eventos
adversos em pacientes com IC (FISHMAN et al., 2019). O estudo DREAM-HF demonstrou
que a administração de células mesenquimais alogênicas reduziu significativamente as
hospitalizações por IC (BUTLER et al., 2019). No entanto, desafios como a padronização
das técnicas, viabilidade celular e resposta imunológica precisam ser superados (CHIEN
et al., 2019).
4. Dispositivos Implantáveis Avançados
Os dispositivos de assistência ventricular esquerda (DAVE) evoluíram em termos
de tecnologia e segurança. O sistema HeartMate 3, por exemplo, apresentou menores
taxas de trombose e complicações em comparação com gerações anteriores (MEHRA et
al., 2018). Além disso, terapias de ressincronização cardíaca aprimoradas e dispositivos
de monitoramento remoto têm contribuído para o manejo otimizado da IC (COWIE et
al., 2017).
5. Terapias Baseadas em RNA Interferente (RNAi) e Gene Editing
Abordagens Inovadoras no Tratamento da Insuficiência Cardíaca: Avanços e Desafios
Silva, Lucas E. A. et. al.
Abordagens genéticas, como o uso de RNAi para silenciar genes envolvidos na
remodelação cardíaca, estão em fase de pesquisa pré-clínica e mostram potencial
terapêutico (LEE; SRIVASTAVA, 2019). A tecnologia CRISPR/Cas9 também é explorada
como ferramenta para corrigir mutações genéticas associadas à IC (ZHANG et al., 2018).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os avanços terapêuticos na IC refletem uma compreensão mais profunda dos
mecanismos fisiopatológicos da doença. A incorporação dos ARNI e iSGLT2 na prática
clínica ampliou significativamente as opções de tratamento, proporcionando benefícios
além dos alcançados com as terapias convencionais (PONIKOWSKI et al., 2016). No
entanto, a implementação dessas terapias enfrenta desafios, como o alto custo dos
medicamentos, acesso desigual entre diferentes regiões e a necessidade de
monitoramento cuidadoso dos pacientes para evitar efeitos adversos (BUTLER et al.,
2020).
As terapias celulares e genéticas representam fronteiras emergentes com
potencial para modificar o curso da doença. Contudo, a translacionalidade dessas
abordagens para a prática clínica requer mais pesquisas para estabelecer segurança,
eficácia e protocolos padronizados (FISHMAN et al., 2019). Os dispositivos implantáveis
avançados melhoraram a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes com IC
avançada, mas levantam questões sobre custo-benefício e qualidade de vida (MEHRA et
al., 2018).
As abordagens inovadoras no tratamento da insuficiência cardíaca têm
proporcionado avanços significativos na redução da morbimortalidade associada à
doença. Medicamentos como os ARNI e iSGLT2, terapias celulares e dispositivos
implantáveis avançados ampliam o arsenal terapêutico disponível. No entanto, a
implementação desses avanços enfrenta desafios que incluem custos elevados, acesso
desigual e necessidade de monitoramento especializado. Esforços contínuos em
pesquisa, educação médica e políticas de saúde são essenciais para superar esses
Abordagens Inovadoras no Tratamento da Insuficiência Cardíaca: Avanços e Desafios
Silva, Lucas E. A. et. al.
obstáculos e integrar essas abordagens na prática clínica diária.
REFERÊNCIAS
BRAUNWALD, E. The war against heart failure: the Lancet lecture. The Lancet, v. 385, n. 9970, p.
812-824, 2015.
BUTLER, J. et al. Heart Failure Across the Spectrum: Epidemiology, Pathophysiology, and
Treatment. European Heart Journal, v. 41, n. 36, p. 3575-3582, 2020.
BUTLER, J. et al. Intravenous Iron Therapy in Patients With Heart Failure and Iron Deficiency:
Systematic Review and Meta-Analysis. JACC: Heart Failure, v. 7, n. 3, p. 202-210, 2019.
CHIEN, K. R.; ZWEIGER, M.; BUCK, T. F. Cell therapy for heart disease: beyond the stem cell hype.
Nature Reviews Cardiology, v. 16, n. 12, p. 727-744, 2019.
COWIE, M. R.; WOLFF, A.; BOEHMER, J. P. Monitoring Heart Failure With Implantable Devices.
Journal of the American College of Cardiology, v. 70, n. 3, p. 389-398, 2017.
FISHMAN, J. M.; TOH, H. C.; HARRIS, D. T. Stem cell therapy for heart failure: progress and
challenges. Future Cardiology, v. 15, n. 4, p. 293-306, 2019.
LEE, C. S.; SRIVASTAVA, D. Long Noncoding RNAs in Control of Cardiac Development and
Physiology. Circulation, v. 139, n. 26, p. 2877-2879, 2019.
McMURRAY, J. J. V. et al. AngiotensinNeprilysin Inhibition versus Enalapril in Heart Failure. New
England Journal of Medicine, v. 371, n. 11, p. 993-1004, 2014.
McMURRAY, J. J. V. et al. Dapagliflozin in Patients with Heart Failure and Reduced Ejection
Fraction. New England Journal of Medicine, v. 381, n. 21, p. 1995-2008, 2019.
MEHRA, M. R. et al. A Fully Magnetically Levitated Left Ventricular Assist Device Final Report.
New England Journal of Medicine, v. 378, n. 15, p. 1386-1395, 2018.
Abordagens Inovadoras no Tratamento da Insuficiência Cardíaca: Avanços e Desafios
Silva, Lucas E. A. et. al.
PACKER, M. et al. Cardiovascular and Renal Outcomes with Empagliflozin in Heart Failure. New
England Journal of Medicine, v. 383, n. 15, p. 1413-1424, 2020.
PFEFFER, M. A. et al. Angiotensin receptor neprilysin inhibition in acute myocardial infarction.
Nature Reviews Cardiology, v. 16, n. 7, p. 388-390, 2019.
PONIKOWSKI, P. et al. 2016 ESC Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic
heart failure. European Heart Journal, v. 37, n. 27, p. 2129-2200, 2016.
VERMA, S.; McMURRAY, J. J. V. SGLT2 inhibitors and mechanisms of cardiovascular benefit: a
state-of-the-art review. Diabetologia, v. 61, n. 10, p. 2108-2117, 2018.
VOORS, A. A. et al. The potential role of neprilysin inhibitors in the management of heart failure.
European Heart Journal, v. 36, n. 15, p. 883-893, 2015.
YANCY, C. W. et al. 2017 ACC/AHA/HFSA Focused Update of the 2013 ACCF/AHA Guideline for
the Management of Heart Failure. Circulation, v. 136, n. 6, p. e137-e161, 2017.
ZANNAD, F. et al. SGLT2 inhibitors in patients with heart failure with reduced ejection fraction:
a meta-analysis of the EMPEROR-Reduced and DAPA-HF trials. The Lancet, v. 396, n. 10254, p.
819-829, 2020.
ZHANG, Y. et al. CRISPR/Cas9 Genome-Editing System in Human Stem Cells: Current Status and
Future Prospects. Molecular Therapy, v. 26, n. 12, p. 2658-2668, 2018.